Meus últimos dias têm sido dedicados em grande parte a relacionar temas como trabalho, bem-estar, felicidade e performance. Os pensamentos são reflexos do meu momento atual, seja por questões pessoais, seja por mentorias que ofereci como parte de um programa da A Grande Escola relacionado a carreira, seja pelo lançamento do indicador de felicidade da Humans que se aproxima (05/04). Acho que nunca dediquei tantas horas do meu dia como tenho dedicado à encontrar conexões entre estes pontos. Mas talvez não seja o único a estar pensando nisso. Basta uma breve conversa com amigos próximos para passamos a entender que esta questão é muito maior. Não seria exagero dizer que a busca pela satisfação no ambiente profissional é uma característica da nossa geração. Você já não se pegou pensando nisso?

A efervescência traz consigo, além do questionamento, um anseio e um leque de formas de tentar atendê-lo. De certa forma, minhas empresas fazem parte disso. Além delas mais um caminhão de ações: livros, palestras, metodologias de coaching, coworkings, startups, novas políticas de gestão, programas de qualidade de vida, mindfulness, meditação nas empresas, propósito da empresa, propósito da marca, propósito pessoal, novos hábitos alimentares, café com óleo de côco e manteiga, técnicas para aumento de performance, métodos focados em fazer você acelerar, atingir o “next level”, como muitos têm dito. Respostas a um anseio que é real, muitas dela provavelmente eficazes em alguma escala.

É a vida à serviço do trabalho. Em busca de satisfação, desenvolvemos questões até então não “pertencentes” ou diretamente relacionadas ao mundo profissional para trabalhar melhor. Encontramos nosso propósito para trabalhar melhor. Mudamos nossos hábitos de sono e alimentares para trabalhar melhor. Meditamos para trabalhar melhor. Aprimoramos nossa capacidade de apreciar o presente para trabalhar melhor. Aprendemos sobre nossos pontos fortes e fracos e como lidar com eles para trabalhar melhor. Encontramos paz interior para trabalhar melhor. Aprendemos a viver melhor para trabalhar melhor. E é provável que tudo isso funcione, gente feliz trabalha melhor, quem vive melhor trabalha melhor. Mas em que medida isso é o melhor para a vida?

Talvez eu esteja enxergando uma linha tênue demais, mas acredito que viver melhor para trabalhar melhor talvez seja viver pior. Um passo longo e invasivo no sentido de uma maior distância do sentido essencial da vida, onde a significação maior mora na prática, não no estado. Onde nossa identidade é construída pela produção, não pelo ser. Somos o que fazemos e não o que somos. Um cenário onde o papel do trabalho em nossa vida é distorcido e para muita gente, torna-se a vida em si. No outro lado desta linha tênue que observo, moram as mesmas práticas, a ideia de um trabalho melhor e de uma vida melhor. De um trabalho melhor para uma vida melhor, não o contrário.

Deste lado da linha, nós buscamos nossa melhor versão, nossa paz, um melhor ambiente de trabalho, um sentido, com a ideia de que, sim, o trabalho é parte importantíssima na construção de uma vida significativa, boa, feliz. Mas não a única. O trabalho é sim fonte possível de realização e bem-estar, não destino.

Me alegra ver tanta gente preocupada em cuidar de si e entender que trabalho não é sinônimo de sofrimento, por mais que a etimologia da palavra remeta a isso. Me empolga pensar que como geração, somos uma das primeiras a ressignificar um sentido negativo da atividade. Me preocupa pensar que podemos estar fazendo tudo isso meramente em busca da performance, o que pode trazer consequências emocionalmente devastadoras.

Que você possa buscar maior qualidade de vida no trabalho para uma vida melhor. Não devemos ser mais saudáveis para trabalhar melhor. É o trabalho que precisa ser mais saudável para vivermos melhor. Como suas ações e realizações profissionais podem contribuir para uma vida mais feliz? Quais hábitos saudáveis você pode incorporar à sua rotina de trabalho que pode melhorar a sua vida como um todo?

Uma ótima semana por aí,

Guilherme Krauss.

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